segunda-feira, 11 de maio de 2009

Padrões de mobilidade...

Padrões de mobilidade é uma expressão que surge maioritariamente no âmbito da arqueologia pré-histórica, conectada quase sempre às comunidades de caçadores-recolectores. Porém, esta ideia, algo tendenciosa, está incontestavelmente errada, uma vez que do caçador-recolector ao produtor de alimentos sedentário verifica-se constantemente uma certa carga de mobilidade, alterando-se apenas o seu grau de muito móvel a pouco móvel.

Esquema de padrões de mobilidade
(adaptado de ROWLEY-CONWY, 2004:5)

Em oposição ao modelo uniformitarista proposto por Richard Lee e Irven De Vore (1968) surgiram, desde a década de 80, outros paradigmas defensores de que o sistema de aproveitamento de recursos naturais e consequentemente os padrões de mobilidade são dinâmicos (Binford, 1980; Lurie, 1989; Vierra, 1992), estando relacionados com as distintas particularidades culturais e naturais, quer sincrónica quer diacronicamente. São defendidos então dois tipos de mobilidade:

- Mobilidade do tipo residencial: grupos de número variável que a partir da base residencial desenvolvem expedições diárias para obtenção dos recursos.

- Mobilidade do tipo logístico: pequenos grupos deslocam-se para a obtenção de recursos não-locais, estabelecendo-se em acampamentos de curta duração, trazendo-os depois para os acampamentos principais (Bicho, 2002).


Entender e reconstruir os padrões de subsistência e mobilidade de um determinado grupo, implica ser-se capaz de responder a certas problemáticas:

- Duração da ocupação dos sítios
- Função e especialização dos sítios
- Espaço percorrido durante o ciclo anual
- Mapeamento dos recursos e conhecimento da sua sazonalidade
- Identificação das direcções e tempos de migração das espécies migratórias

Bibliografia:
BICHO, N.
2002. Sistemas de Povoamento, Mobilidade e Aproveitamento dos Recursos Naturais no Território Português Durante a Transição Plistocénico-Holocénico. Lusíada. Arqueologia, História da Arte e Património, 1: 31-58
BINFORD, L.
1980. Willow smoke and dog´s tails: hunter-gatherer settlement systems and archaeological site formation. American Antiquity, 31(2): 2-15
LEE, R. & VORE, I.
1968. Man the Hunter. Chicago: Aldine Publishing Company.
LURIE, R.
1989. Lithic technology and mobility strategies: the Koster Site Middle Archaic, in R. TORRENCE (ed.) – Time, energy and stone tools: 46-56. Cambridge: Cambridge University Press.
ROWLEY-CONWY, P.
2004. Complexity in the Mesolithic of the Atlantic Façade: Development or Adaptation?, in M. GONZÁLEZ MORALES & G. CLARK (eds.) – The Mesolithic of the Atlantic Façade: proceedings of the Santander Symposium: 1-12. Arizona State University.
VIERRA, J.
1992. Subsistence e Diversification and the Evolution of Microlithic Technologies: A study of the Portuguese Mesolithic. Tese de doutoramento, Universidade do Novo México.



Célia Gonçalves
Mestranda em Arqueologia, Teoria e Métodos
Universidade do Algarve

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